terça-feira, 26 de novembro de 2013

As CEBs nos tempos atuais: Problema ou Solução?

D. Eurico dos Santos Veloso

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora. 

As CEBs nos tempos atuais: Problema ou Solução?

Muita gente se pergunta pela atualidade das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), isto é, se ainda tem sentido, na sociedade contemporânea, falar e, sobretudo, fazer uma experiência de CEBs. A partir desta indagação, intuí alguns palpites que partilho com quem continua trabalhando para manter acesa a lamparina (cf. Lc 11,33-36).
Começo, propositadamente, com uma provocação que vem sendo usada para descaracterizar ou, pelo menos, relativizar a presença e missão das CEBs em nossos dias, a saber, a sociedade globalizada.

Muita gente acredita e divulga que na forma de organização social atual, com a primazia do mercado e, com ele, as relações subordinadas ao capital e ao lucro, ou o avanço tecnológico que impõe conhecimento e informação, e tudo o que daí decorre, não haja mais lugar para a construção de comunidades ou a realização de um projeto autenticamente comunitário. Ou seja, na sociedade, tal como está aí, hoje, seria utópico pensar e apostar na força da união, do “um por todos e todos por um”, pois a lei da competição defende que é cada um por si mesmo e ponto. Uma teoria que, é bem verdade, no contexto do capitalismo neoliberal faz sentido e expressa o sentimento comum daquelas pessoas que assimilaram e introjetaram a ideologia dominante. O mais interessante, porém, é que quem continua atento e fiel aos “sinais dos tempos” e lugares, pode usar o mesmo argumento do neoliberalismo e da globalização para contestar esta posição conservadora que não representa mais que a manutenção do status quo.

O atual sistema social supõe e impõe critérios e estilos de vida frontalmente opostos ao cristianismo que, desde sua origem, sustenta que ser cristão passa pela adesão ao espírito comunitário (cf. At 2,42-47; 4,32-37; 5,12-16) ou, se preferirmos, a fé cristã, que é obrigatoriamente mediada por relações de amor e fraternidade (cf. 1Jo 4,12) só pode ser experimentada em comunidade, e nunca fora dela (cf. Jo 20,19-29). A sociedade globalizada postula intimismo, individualismo, consumismo, competição, lucro e tudo o que submete a vida humana e ecológica à soberania do mercado; a relação de comunidade (comum-unidade) se estabelece, em contrapartida, pela abertura, diálogo, respeito, comunhão, participação, solidariedade, partilha, e tudo quanto define as relações interpessoais que, mesmo reconhecendo e valorizando a individualidade (cada pessoa), sobrepõe o “nós” comunitário ao “eu” egoísta ou individualista; o “nós” comunitário está impregnado da dimensão do todo, preocupando-se e ocupando-se do bem comum; o “eu” egoísta, por natureza, “ensimesmado”, concebe e constrói as relações, tendo em vista o eventual proveito que delas poderá tirar.

Toda esta desafiadora conjuntura exige respostas rápidas e eficazes para enfrentar, combater e substituir as relações mercantilistas, tipicamente neoliberais, por relações humanas, mais fraternas e solidárias, que assumam como ponto alto do seu compromisso o cuidado e a defesa da vida humana e ecológica. Ora, para realizar este grande “mutirão pela vida”, a única alternativa viável é a construção de comunidades e/ou grupos que, amando-se e apoiando-se, se solidarizem e, solidarizando-se, se protejam e colaborem para proteger e defender a dignidade, a vida e o bem comum, patrimônios indeléveis da humanidade.

É claro que, na prática, a tarefa não é fácil. Na realidade urbana, por exemplo, as pessoas recebem muito mais informação e são mais contaminadas pela mídia elitista e globalizada. Situações como as de condomínio fechados, com porteiros eletrônicos, câmeras internas etc., serão, com certeza, um dos maiores desafios para “fazer comunidade” e evangelizar a cidade. Não obstante, já vemos despontar em regiões urbanas experiências de condomínios, ou parte deles, que se abrem para encontros semanais de círculos bíblicos, onde se realiza a profecia de Jesus: pobres evangelizando ricos. Agentes de pastoral, em geral, de classe média baixa para pobre, que vão aos prédios semanalmente para colaborar com os moradores na leitura orante da Bíblia, com o velho conhecido objetivo de transformar a realidade à luz da Palavra de Deus. Eu mesmo sou testemunha, a partir das Visitas Pastorais, de Paróquias, na área urbana da Arquidiocese de Juiz de Fora, que acreditam e alimentam o espírito de pequenas comunidades, com círculos bíblicos, em encontros periódicos que se realizam em garagens, varandas ou até mesmo em baixo de uma árvore.

Um exemplo que ilustra esta presença das CEBs, fermento da nova sociedade e inserida no novo contexto social é um de nossos jovens da periferia, de família que vive abaixo da linha da pobreza, mas que conhece e trabalha a Bíblia em linguagem popular como ninguém.

Em um dos encontros que assessorou, conheceu uma dessas madames de condomínio fechado, que se encantou com sua fala. Chamou-o ao término do encontro e lhe perguntou se, caso ela organizasse um grupo em seu condomínio, ele estaria disposto a uma primeira conversa com o pessoal. O rapaz respondeu que sim e, de fato, foi a primeira vez. Todos gostaram e pediram que fosse uma segunda, e assim o grupo engrenou. Com o passar do tempo, os participantes descobriram quem era o jovem que os servia com a reflexão da Palavra: pobre e sem condições sequer de manter seus estudos. A partir daí a Palavra se torna luz que brilha na ação organizada e solidária do grupo (cf. Mt 5,16) e hoje, com a contribuição de todos os seus membros, o jovem tem garantido seu direito de estudar.
Alguém poderia alegar: mas neste caso a solidariedade aparece como uma opção individualista que resolve apenas um problema pessoal e não comunitário ou coletivo.
Seria, se o mesmo grupo não tivesse se mobilizado e assumido o plebiscito contra a privatização da Vale do Rio Doce, na semana da Pátria de setembro de 2007. Ou seja, a reflexão deu origem à construção da experiência comunitária, levando o grupo de classe média a assumir, à luz da Palavra de Deus, uma opção de classe: opção pelos pobres na solidariedade com o jovem, e opção pela classe popular na luta pelos direitos de todos. Conjugados, estes são os elementos constitutivos das CEBs.

Respondendo ao novo contexto social, a V Conferência do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho) questiona a atual estrutura paroquial que já não responde aos grandes desafios dos tempos modernos (cf. DA - Documento de Aparecida 173), e lança o apelo para transformar a paróquia em uma “rede de comunidades e grupos” (DA 172). Claro está que a Paróquia não é uma CEB, mas uma rede de comunidades missionárias, donde a importância de sua “setorização em unidades territoriais menores... que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região” (DA 372). Por isso, reconhece nas CEBs verdadeiras “escolas” (DA 178) que “demonstram seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados, e são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. São fonte e semente de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja” (DA 179).

As CEBs nos tempos atuais se justificam e se impõem como o meio mais coerente e eficaz de ser cristão, pois na atual conjuntura de empobrecimento e exclusão das massas, não há outro caminho, para a sobrevivência dos pobres, que não sejam comunidades humanas, humanizadas, fraternas e solidárias, que têm a missão de acolher e cuidar de todos, no mesmo espírito de Atos dos Apóstolos.

domingo, 24 de novembro de 2013

HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2014

Dia do leigo

PARABÉNS A TODOS OS LEIGOS DA NOSSA DIOCESE DE CAETITÉ E OS DO MUNDO INTEIRO QUE SE PÕE A SERVIÇO

Neste domingo, 24 de novembro, é celebrado o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas. Por ocasião da data, o bispo de Caçador (SC) e presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB, dom  Severino Clasen, envia uma mensagem aos leigos. “Saudamos e cumprimentamos os milhões de leigos e leigas que se dedicam à evangelização; são infinitamente a maioria absoluta que anunciam o Cristo Rei através da catequese, da liturgia, da coordenação de grupos, das pastorais, dos movimentos, associações, novas comunidades…”, destacou o bispo.


Leia o texto na íntegra:
Mensagem para o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas
Saúdo todos os leigos e leigas do Brasil pelo seu dia na festa de Cristo Rei!
Viva Cristo Rei!
Todas as criaturas necessitam de um ambiente saudável para nascer, crescer e viver em paz. É preciso construir a casa para que se possa viver com dignidade como pessoa humana, desde o momento em que tem início a existência, pois, já carrega a imagem de Cristo.
Jesus Cristo é proclamado Rei do Universo no último domingo litúrgico do ano. Ele tem um Reino para nós. Pela graça do Batismo, somos filiados à Igreja.  Como mãe, a Igreja oferece as condições espirituais e humanas para que a vida seja de fato vista como dom e riqueza imensurável. Portanto, cada criatura humana carrega dentro de si o grande sinal de Deus Uno e Trino. A festa de Cristo Rei é para todos os batizados. Lembramos nesse dia especialmente os leigos e leigas.
A Comissão Episcopal de Pastoral para o Laicato, ao saudar os leigos e leigas, convoca-os para trabalhar na messe do Senhor e construir o Reino de paz e de justiça. O nosso espaço, o lugar onde vivemos, deve se tornar um sinal do Reino definitivo anunciado por Jesus Cristo. Por isso, são chamados para contribuir na evangelização. Saudamos e cumprimentamos os milhões de leigos e leigas que se dedicam à evangelização; são infinitamente a maioria absoluta que anunciam o Cristo Rei através da catequese, da liturgia, da coordenação de grupos, das pastorais, dos movimentos, associações, novas comunidades, CEBs, dos conselhos de leigos e da presença nos diferentes espaços da sociedade como na cultura, na economia, no mundo do trabalho,  nas artes, na família, na política, na vida profissional, na educação, nos meios de comunicação,  dentre outros.  Reconhecemos que a maioria dos agentes de evangelização são as mulheres.
O trabalho humilde, simples, cotidiano, constante, sereno, fecundo das mulheres é a beleza gigantesca no anúncio do Reino de Deus. Que os homens também se sintam participantes nessa tarefa divina e santa, pois temos tantos homens espalhados pelo mundo afora se dedicando no anúncio do Evangelho e sua justiça. Que na festa de Cristo Rei, dia do leigo, saibamos valorizar todos os que são partícipes da gloriosa vinda de Cristo e com Ele, possamos construir o Reino definitivo.
No ano de 2014, teremos muitas oportunidades para aprofundar a reflexão sobre a missão e o ministério dos leigos. Está na hora de somarmos forças para equilibrar as relações no mundo todo, que nenhum filho de Deus, passe fome, se perca no crime e seja recolhido em prisões, mas que tenha saúde, educação, espaço para o lazer, trabalho digno, moradia; esse é o Reino que ainda deve ser construído, e a força do Evangelho nos proporciona e nos condiciona para tanto. Como afirma do Documento de Aparecida os leigos e leigas são chamados a ser construtores do Reino.  É uma questão de decisão, de participação e de iniciativa criativa e inspirada pela força de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Que a fé, aumentada e professada neste Ano da Fé, seja a força motora em cada cristão para ser instrumento de paz em toda parte.
Que o modelo de vida de família, testemunhada por Jesus, Maria e José, encoraje os leigos e leigas para serem discípulos missionários do Reino de Deus.

Fraternalmente,
Dom Frei Severino Clasen
Bispo de Caçador – SC
Presidente da Comissão Episcopal para o Laicato


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Campanha da Fraternidade 2014

BRASIL: CNBB divulga cartaz da Campanha da Fraternidade 2014

CF 2014 “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”.
CF 2014 “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”.
Os subsídios da Campanha da Fraternidade 2014 já estão disponíveis nas Edições CNBB. São diversos materiais como o manual, texto base, via sacra, celebrações ecumênicas, folhetos quaresmais, CD e DVD, banner, cartaz e outros.
Com o objetivo de trabalhar os conteúdos da campanha nas escolas, foram produzidos também subsídios de formação voltados aos jovens do ensino fundamental e médio, além de encontros catequéticos para crianças e adolescentes. O cartaz da CF 2014 traz o tema “Fraternidade e Tráfico Humano” e lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1). Os demais produtos podem ser adquiridos no site: www.edicoescnbb.org.br ou pelo telefone: (61) 2193.3001. www.cnbb.org.br

Baixe aqui o subsídio e o cartaz da Campanha.

Entenda o significado do cartaz:
1-O cartaz da Campanha da Fraternidade quer refletir a crueldade do tráfico humano. As mãos acorrentadas e estendidas simbolizam a situação de dominação e exploração dos irmãos e irmãs traficados e o seu sentimento de impotência perante os traficantes. A mão que sustenta as correntes representa a força coercitiva do tráfico, que explora vítimas que estão distantes de sua terra, de sua família e de sua gente.
2-Essa situação rompe com o projeto de vida na liberdade e na paz e viola a dignidade e os direitos do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. A sombra na parte superior do cartaz expressa as violações do tráfico humano, que ferem a fraternidade e a solidariedade, que empobrecem e desumanizam a sociedade.
3-As correntes rompidas e envoltas em luz revigoram a vida sofrida das pessoas dominadas por esse crime e apontam para a esperança de libertação do tráfico humano. Essa esperança se nutre da entrega total de Jesus Cristo na cruz para vencer as situações de morte e conceder a liberdade a todos. “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1), especialmente os que sofrem com injustiças, como as presentes nas modalidades do tráfico humano, representadas pelas mãos na parte inferior.
4-A maioria das pessoas traficadas é pobre ou está em situação de grande vulnerabilidade. As redes criminosas do tráfico valem-se dessa condição, que facilita o aliciamento com enganosas promessas de vida mais digna. Uma vez nas mãos dos traficantes, mulheres, homens e crianças, adolescentes e jovens são explorados em atividades contra a própria vontade e por meios violentos.