sábado, 17 de maio de 2014

OBRIGADA Pe. GIULIANO PELA CONTRIBUIÇÃO EM NOSSA DIOCESE


Querido Padre Giuliano é com muito carinho e em tom de agradecimento que as CEBs da Paróquia de Condeúba se despedem do senhor hoje. Foram muitos os momentos que passamos juntos, e com certeza marcaram nossa história. As caminhadas, as subidas ao morro da Feirinha, os encontros nos zonais, o curso de verão, a escola de Teologia que o senhor tanto nos incentivou e apoiou a participar, são muitas coisas que aconteceram nesses nove anos de convivência.
Gostaríamos de agradecer por tudo aquilo que nos proporcionou e o quanto fez crescer as nossas Comunidades, com momentos de formação pra catequese, a Pastoral Familiar, a Juventude, aos Animadores. E por todo empenho e incentivo e dedicação, reanimando e fazendo crescer ainda mais nossas comunidades.
Em suas palavras sempre nos convida a ter uma fé madura, ter pés no chão, LIGAR FÉ E VIDA.
Nos momentos de dificuldades e de desânimo sempre nos apoiava e nos lembrava que podemos nos decepcionar com muitas coisas, mas Jesus nunca nos decepciona. Que precisamos manter os olhos fixos em Jesus e ter os pés fincados no chão da nossa realidade.
Com sua simplicidade nos mostrou e nos ensinou a ver a presença de Deus nas pequenas coisas, nas coisas simples da vida, nas coisas pequenas. E nos ajudou a valorizarmos ainda mais nossas comunidades sendo ela grande, ou pequena. Não mediu esforços ao acompanhá-las com seu carinho de pastor, nas celebrações da santa missa, ou nos sacramentos. Não importava as distâncias visitava com frequência os doentes e dava a eles muita atenção e carinho.
O senhor Pe. Giuliano marcou a história de nossa paróquia com momentos pastorais e culturais que muito contribuiu para nosso caminhar comunitário, o carinho com que cuidou da nossa juventude e proporcionou verdadeiros momentos de cidadania e cuidado com a nossa vida, O NOSSO BEM MAIOR.
   Obrigada por tudo que fizeste por nossa Paróquia em especial pelas nossas comunidades. Com seu jeito simples de ser se aproximou de nosso povo e deixou que as pessoas se aproximassem do senhor com muita humildade. Se aproximou das crianças e dos especiais dando atenção e carinho. Que criança não conhece o barulho da buzina do padre quando visitava as comunidades? As crianças ao ouvi-la corriam pra estrada pra receber um abraço e as famosas balinhas do padre.
Te agradecemos, por tantas portas que nos abriu, e nos possibilitou estudar e conhecer ainda mais a palavra de Deus, com vários encontros e palestrantes de muita qualificação e conhecimento.
 Nossas vidas mudaram e o jeito de vermos e vivermos a fé também. Amadurecemos e crescemos muito com sua presença, o compromisso e a responsabilidade pastoral hoje é maior, pois aprendemos a valorizar o que temos e o que somos, o nosso jeito de ser, de celebrar e de viver em comunidade.
Por isso só temos a agradecer por tudo que passamos e vivemos durante todo esse tempo, muitas coisas ficarão guardadas em nossas vidas que farão a diferença por onde formos. Com seus ensinamentos nos tornamos pessoas melhores e mais ativas com um olhar diferente sobre a vida e a realidade.
Obrigada por tudo que tens feito pelas nossas Comunidades, ficam nosso respeito, carinho e admiração pelo Pe. Giuliano e mais ainda pelo ser humano humilde que és.

Comunidades Rurais da Paróquia de Santo Antônio.






quinta-feira, 1 de maio de 2014

CANONIZAÇÃO DE JOÃO XXIII E JOÃO PAULO II



Uma cerimônia inédita realizada neste domingo (27) na Praça de São Pedro, no Vaticano, e acompanhada por milhares de fiéis católicos, canonizou dois Papas: o polonês João Paulo II e o italiano João XXIII.

A canonização dupla reuniu, em um único evento, o atual Papa Francisco e o Papa Emérito Bento XVI, que renunciou no ano passado em uma situação inédita na história moderna da Igreja Católica.
Francisco concelebrou missa solene com cinco prelados, entre eles o bispo de Bergamo (cidade natal do italiano João XXIII), Francesco Beschi, e o ex-secretário particular do Papa João Paulo II e arcebispo de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz.
O Papa Francisco, à direita, cumprimenta seu predecessor, o Papa Emérito Bento XVI, durante a cerimônia de canonização de João XXIII e João Paulo II, neste domino (27), no Vaticano (Foto: L'Osservatore Romano/AP)O Papa Francisco, à direita, cumprimenta seu predecessor, o Papa Emérito Bento XVI, durante a cerimônia de canonização de João XXIII e João Paulo II, neste domino (27), no Vaticano (Foto: L'Osservatore Romano/AP)
"Estes foram dois homens de coragem ... e deram testemunho diante da Igreja e do mundo da bondade e misericórdia de Deus", disse Francisco. "Eles viveram os trágicos acontecimentos do século XX, mas não foram oprimidos por eles. Para eles, Deus era mais poderoso, a fé era mais poderosa."
As relíquias dos dois novos santos, uma ampola de sangue de João Paulo II e um pedaço de pele de João XXIII extraída durante sua exumação no ano 2000, foram colocadas ao lado do altar.
Bento XVI seguiu a cerimônia no setor esquerdo do altar, junto com os cardeais e os 1.000 bispos que concelebraram sucessivamente a missa.A cerimônia de canonização teve os mesmos moldes de uma missa e foi simples, sóbria e sem extravagâncias, segundo o Vaticano.
Em 2011, a beatificação de João Paulo II, feita por Bento XVI, durou três dias e custou cerca de US$ 1,65 milhão, reunindo 1,5 milhão de fiéis na praça e nos seus arredores, segundo a polícia de Roma.
O Vaticano, citando fontes da polícia italiana, estimou que cerca de 800 mil pessoas participaram da celebração.
Segundo a Santa Sé, 500 mil pessoas lotaram a praça e sua via de acesso, a Via da Conciliação, e 300 mil seguiram o evento diante dos 17 telões instalados em diversos locais em Roma.
Os poloneses - conterrâneos de João Paulo II-, foram os estrangeiros mais numerosos presentes.
Trens especiais foram colocados em circulação para a viagem desde a Polônia.
A cerimônia do lado de fora da Basílica de São Pedro permitiu que mais pessoas participassem do evento.
Bandeiras de vários países, inclusive o Brasil, podiam ser vistas na multidão.
A praça foi enfeitada com 30 mil rosas vermelhas, amarelas e brancas doadas pelo Equador, cujo presidente, Rafael Correa, estava presente na cerimônia.
Telões foram espalhados na Praça e pela cidade de Roma, que  teve esquema especial de trânsito para a celebração, com bloqueio de ruas e reforço nos transportes públicos.
Após a cerimônia, Francisco percorreu a praça no Papamóvel, cumprimentando os fiéis. Antes, ele levou cerca de 40 minutos para cumprimentar os integrantes das 93 delegações internacionais que compareceram à festa.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cuidar da Mãe Terra e amar todos os seres Leonardo Boff


Cuidar da Mãe Terra e amar todos os seres

O amor é a força maior existente no universo, nos seres vivos e nos humanos. Porque o amor é uma força de atração, de união e de transformação. Já o antigo mito grego o formulava com elegância: “Eros, o deus do amor, ergueu-se para criar a Terra. Antes, tudo era silêncio, desprovido e imóvel. Agora tudo é vida, alegria, movimento”. O amor é a expressão mais alta da vida que sempre irradia e pede cuidado, porque sem cuidado ela definha, adoece e morre.

Humberto Maturana, chileno, um dos expoentas maiores da biologia contemporânea, mostrou em seus estudos sobre a autopoiesis, vale dizer, sobre a auto-orgnização da matéria da qual resulta a vida, como o amor surge de dentro do processo evolucionário. Na natureza, afirma Maturana, se verificam dois tipos de conexões (ele chama de acoplamentos) dos seres com o meio e entre si: uma necessária, ligado à própria subsistência e outro espontânea, vinculado a relações gratuitas, por afinidades eletivas e por puro prazer, no fluir do próprio viver.

Quando esta última ocorre, mesmo em estágios primitivos da evolução há bilhões de anos, ai surge a primeira manifestação do amor como fenômeno cósmico e biológico. Na medida em que o universo se inflaciona e se complexifica, essa conexão espontânea e amorosa tende a incrementar-se. No nivel humano, ganha força e se torna o móvel principal das ações humanas.
O amor se orienta sempre pelo outro. Significa uma aventura abraâmica, a de deixar a sua própria realidade e ir ao encontro do diferente e estabelecer uma relação de aliança, de amizade e de amor com ele.

O limite mais desastroso do paradigma ocidental tem a ver com o outro, pois o vê antes como obstáculo do que oportunidade de encontro. A estratégia foi e é esta: ou incorporá-lo, ou submete-lo ou eliminá-lo como fez com as culturas da África e da América Latina. Isso se aplica também para com a natureza. A relação não é de mútua pertença e de inclusão mas de exploração e de submetimento. Negando o outro, perde-se a chance da aliança, do diálogo e do mútuo aprendizado. Na cultura ocidental triunfou o paradigma da identidade com exclusão da diferença. Isso gerou arrogância e muita violência.

O outro goza de um privilégio: permite surgir o ethos que ama. Foi vivido pelo Jesus histórico e pelo paleocristianismo antes de se constituir em instituição com doutrinas e ritos. A ética cristã foi mais influenciada pelos mestres gregos do que pelo sermão da montanha e prática de Jesus. O paleocristianismo, ao contrário, dá absoluta centralidade ao amor ao outro que para Jesus, é idêntico ao amor a Deus. O amor é tão central que quem tem o amor tem tudo. Ele testemunha esta sagrada convicção de que Deus é amor(1 Jo 4,8), o amor vem de Deus (1 Jo 4,7) e o amor não morrerá jamais (1Cor 13,8). E esse amor incondicional e universal inclui também o inimigo (Lc 6,35). O ethos que ama se expressa na lei áurea, presente em todas as tradições da humanidade: “ame o próximo como a ti mesmo”; “não faça ao outro o que não queres que te façam a ti”. O Papa Francisco resgatou o Jesus histórico: para ele é mais importante o amor e a misericórdia do que a doutrina e a disciplina.

Para o cristianismo, Deus mesmo se fez outro pela encarnação. Sem passar pelo outro, sem o outro mais outro que é o faminto, o pobre, o peregrino e o nu, não se pode encontrar Deus nem alcançar a plenitude da vida (Mt 25,31-46). Essa saída de si para o outro a fim de amá-lo nele mesmo, amá-lo sem retorno, de forma incondicional, funda o ethos o mais inclusivo possível, o mais humanizador que se possa imaginar. Esse amor é um movimento só, vai ao outro, a todas as coisas e a Deus.

No Ocidente foi Francisco de Assis quem melhor expressou essa ética amorosa e cordial. Ele unia as duas ecologias, a interior, integrando suas emoções e os desejos, e a exterior, se irmanando com todos os seres. Comenta Eloi Leclerc, um dos melhores pensadores franciscanos de nosso tempo, sobrevivente dos campos de extermínio nazista de Buchenwald:

Em vez de enrijercer-se e fechar-se num soberbo isolamento, Francisco deixou-se despojar de tudo, fez-se pequenino, colocou-se, com grande humildade, no meio das criaturas. Próximo e irmão das mais humildes dentre elas. Confraternizou-se com a própria Terra, como seu húmus original, com suas raízes obscuras. E eis que a “nossa irmã e Mãe-Terra” abriu diante de seus olhos maravilhados um caminho de uma irmandade sem limites, sem fronteiras. Uma irmandade que abrangia toda a criação. O humilde Francisco tornou-se o irmão do Sol, das estrelas, do vento, das nuvens, da água, do fogo e de tudo o que vive e até da morte”.

Esse é o resultado de um amor essencial que abraça todos os seres, vivos e inertes, com carinho, enternecimento e amor. O ethos que ama funda um novo sentido de viver. Amar o outro, seja o ser humano, seja cada representante da comunidade de vida, é dar-lhe razão de existir. Não há razão para existir. O existir é pura gratuidade. Amar o outro é querer que ele exista porque o amor torna o outro importante.”Amar uma pessoa é dizer-lhe: tu não poderás morrer jamais” (G.Marcel); “tu deves existir, tu não podes ir embora”.

Quando alguém ou alguma coisa se fazem importantes para o outro, nasce um valor que mobiliza todas as energias vitais. É por isso que quando alguém ama, rejuvenesce e tem a sensação de começar a vida de novo. O amor é fonte de suprema alegria.

Somente esse ethos que ama está à altura dos desafios face à Mãe Terra devastada e ameaçada em seu futuro. Esse amor nos poderá salvar a todos, porque abraça-os e faz dos distantes, próximos e dos próximos, irmãos e irmãs.

Dom Zanoni Demettino Castro 50 anos de luta pela democracia


Dom Zanoni Demettino Castro
Bispo de São Mateus (ES)
Neste ano de 2014 somos chamados a fazer a memória das nossas alegrias e esperanças, das nossas tristezas e dores. Neste momento, lembramos, sobretudo, os 50 anos da Ditadura, um dos mais dolorosos episódios da história do Brasil, que com o ato de força de 1º de abril, significou um golpe profundo para as instituições democráticas e durou longos 21 anos, jogando o País numa noite de terror, prisões, torturas, mortes e desaparecimento de pessoas.
Nasci e cresci num ambiente de forte resistência a essa situação. Aprendi, desde pequeno, que nem tudo que aparecia nos jornais e televisão correspondia à verdade. Conheci homens e mulheres honrados, muitos, imbuídos pela fé, que se engajaram seriamente contra este sistema, e, por esta razão, foram tratados como “subversivos”. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e exiladas. Muitas foram mortas. Políticos tiveram seus mandatos revogados; cidadãos, funcionários públicos e militares foram demitidos; estudantes expulsos das escolas e Universidades. Imperava a Lei de Segurança Nacional. 
Lembro-me muito bem do meu pároco, cuidadoso e prudente com as palavras, quando nos ensinava o Evangelho, falando-nos do amor, da justiça, da democracia e da liberdade. Tocava no fundo do nosso coração as palavras do grande pastor e profeta, Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, silenciado pela ditadura: “quando dou pão aos pobres me chamam de santo, quando pergunto pela causa de sua pobreza me chamam de comunista.”
Esta data de forma alguma poderá ser esquecida. É, sem dúvida, uma oportunidade rica de refletirmos e debatermos a respeito da construção social e política do nosso país. Tempo propício de levantar questões sérias: Por que o Brasil acolheu esse Regime ditatorial e autoritário em 1964? Como a ditadura civil militar redesenhou esse País Continente e quais são hoje as suas marcas mais profundas? Como foi possível passar do autoritarismo para a Democracia?
Nossos jovens precisam saber o que de fato aconteceu. Por que tantos meninos e meninas daquela época entraram nesta luta? Quais eram os seus sonhos e a razão de tamanha coragem? Lembro-me, como se fosse hoje, da paródia da música “Tristeza”, que cantávamos no Colégio em que eu estudava em Brasilia, no final dos anos 70, com muito receio, mas com segura nitidez e grande orgulho. Pedíamos o fim da ditadura: “Figuerêdo, por favor vai embora, é o povo que implora, esperando seu fim. O meu salário diminui a cada dia, já é demais o meu penar. Quero de volta a Democracia. Quero de novo votar”. Havia um desejo de mudança, um sonho de justiça e liberdade.
Vejo com bons olhos o grandioso esforço da Comissão da Verdade. Por outro lado, percebo que muitos querem minimizar esse período de exceção. Chegam a afirmar que a Ditadura não foi tão dura assim e até defendem o seu retorno como remédio à violência e corrupção. São os mesmos que apoiam mortes, criminalizam os movimentos sociais e demonizam a política.
Graças a Deus a Ditadura foi vencida. Foi uma vitória da população brasileira, o sonho das Comunidades Eclesiais de Base que, desde os meados dos anos 70, com outras forças da sociedade, indo às ruas, denunciando torturas e mortes, articulando-se e mobilizando-se em favor da anistia, participaram de uma das mais espetaculares campanhas que este pais já assistiu, a Diretas já!
A luta pela consolidação da Democracia continua. Conseguimos a Lei Contra a Corrupção Eleitoral (Lei 9.840) e a Lei da Ficha Limpa. Agora, estamos empenhados para que essa vitória alcançada tenha suas bases ancoradas no direito, na liberdade e na justiça, por uma reforma do Estado com a participação democrática.

domingo, 30 de março de 2014

“Descalço sobre a Terra Vermelha” mostra a luta do bispo Casaldáliga no Araguaia

A TV3 da Catalunha, na Espanha, lançou nesta segunda-feira, 24, a minissérie "Descalço sobre a Terra Vermelha", uma produção de dois episódios de uma hora de duração cada que retrata a luta do bispo emérito de São Felix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga pelos direitos dos pequenos agricultores de Mato Grosso. O ator Eduard Fernandez, um conhecido artista nascido em Barcelona, encarna o religioso nessa produção. A série foi dirigida por Oriol Ferrer, escrita por Marcos Bernstein e Maria Jaen, e baseado no livro de Francesc Escribano Casaldáliga.

De acordo com a descrição que aparece no site da Absolute Minority Company, a série combina ação e misticismo igualmente "no cenário exuberante de Mato Grosso, em contraste com a paisagem humana e social chocante". A história de Pedro Casaldáliga se desenvolve "em torno de valores universais " no contexto da teoria filosófica e teológica da libertação e da situação geopolítica dos anos 70 ditadura brasileira.

"Descalço sobre a Terra Vermelha" é essencialmente "realista e esperançoso" e tem como objetivo trazer a "verdade da vida" e "a conquista dos direitos inalienáveis" dos trabalhadores rurais e pobres que residem na região do Norte Araguaia.

filme já ganhou dois prêmios FIPA de Ouro na 27ª edição do Festival Internacional de Programas Audiovisuais de Biarritz (sudoeste da França).

O diretor da TV3, Sellent Eugene, descreveu o projeto 'modelo ' em outras produções , tanto pelo conteúdo, valores e tenacidade como o modelo de negócio de otimização de recursos . O outro reconhecimento ao filme foi pela melhor trilha sonora original; e de modo especial, a produção ganhou elogios pela música composta por David Cervera. A série foi co-produzida pela TVC, TVE, Minoria Absoluta, Raiz Produções Cinematográficas e TV Brasil.

O escritor Francesc Escribano salientou que a produção tornou-se "o coração" para contar uma história notável de um catalão universal' . Já o ator Eduard Fernandez salientou que o papel lhe deu muito do que ele trouxe , porque o pai Casaldáliga 'não deixa ninguém indiferente.

Pedro Casaldaliga nasceu na província de Barcelona, em 16 de fevereiro de 1928, e mora no Brasil desde 1968. Ingressou na Congregação Claretiana em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952.

 "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar"  foi o lema da atividade pastoral de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito do Araguaia.   

Foi nomeado administrador apostólico da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT) no dia 27 de abril de 1970. O Papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia em agosto de 1971. Sua ordenação episcopal se deu pelas mãos de Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia e de Dom Tomás Balduíno, e Dom Juvenal Roriz. Foi bispo da sé titular de Altava até 1975.

Dom Pedro já sofreu inúmeras ameaças de morte, e por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil, por seu engajamento nas lutas camponesas. Em 1994 apoiou a revolta de Chiapas, no México, afirmando que quando o povo pega em armas deve ser respeitado e compreendido . Em 1999 publicou a "Declaração de Amor à Revolução Total de Cuba" .

Seu amor à liberdade inspirou sua luta contra a centralização do governo da Igreja, pois considera que a visão de Roma é apenas uma entre as várias possíveis, e que a Igreja deveria ser uma comunhão de igrejas. Acha que se deve falar da Igreja que está em São Félix do Araguaia, assim como se fala da Igreja que está em Roma, pois unidade não tem que ser sinônimo de centralização e sim de descentralização.

Ao completar 75 anos, Dom Pedro Casaldáliga foi sucedido em São Félix por Dom Frei Leonardo Ulrich Steiner, sucessivamente transferido para a Arquidiocese de Brasília como bispo auxiliar. Para a Prelazia foi nomeado Dom Adriano Ciocca Vasino.

quarta-feira, 5 de março de 2014

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO SOBRE A QUARESMA

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9)
 Queridos irmãos e irmãs! 
 Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico? A graça de Cristo Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22). A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2). Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf.Rm 8, 29). Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo. O nosso testemunho Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d'Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo. À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha. Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus. O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana. Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói. Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde! Vaticano, 26 de Dezembro de 2013 Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir.

PAPA FRANCISCO

CANTO CF 2014

CANTO CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2014

CAMPANHA DA FRATERNIDADE

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

PADRE ZEZINHO FALA DAS CANÇÕES DE LOUVOR.

De cada 20 canções de louvor cantadas nos templos católicos e evangélicos 19 falam e cantam o louvor! A solidariedade e a compaixão e a família raramente são celebradas nos templos. Os casais, pais e filhos, noivos, pobres e enfermos e a justiça social nunca são cantadas. Isto, quando 130 dos 150 salmos cantam a libertação dos pobres e de um povo oprimido.

Canta-se voltado para o altar e raramente para o mundo lá fora sobre o qual se ora. Na hora de orar os cantores pensam no mundo pecador. Mas, na hora de cantar esquecem de cantar as cruzes que o povo carrega. A música religiosa católica e evangélica enveredou pelo funil do louvor e esqueceu os grandes temas bíblicos que os profetas celebravam!

É como se Isaías, Amós, Jeremias, Oséias e os Salmos não tivessem existido e só tivessem só cantado o louvores a Javé.

De tal maneira a nova mídia religiosa entrou na música católica e pentecostal e evangélica , que na maioria das paróquias e seminários, e até das congregações e ordens com mística próprios e cantos próprios, o que ouve nas missas são as canções voltadas 97% para o louvor! Isto em todas as igrejas.

Os cristãos desistiram dos cantar a solidariedade e a compaixão! Vão na direção oposta os profetas libertadores. Apenas abordam a libertação do coração pecador. Fome, violência, separações de famílias, crianças abandonadas, adolescentes sem educação, corrupção não se canta e não se exorta! Os profetas não fugiam destes temas! Os cantores cristãos dos últimos 30 optaram por não tocar nestes temas!

Família, ecumenismo, solidariedade, temas sociais, violência contra as mães, pais e filhos, enfermos, libertação, ecologia, nada disso é cantado, como se a Igreja só pudesse evangelizar com cantos de louvor! Agem como se a compaixão pelos pobres, pelos enfermos e pelo dialogo em família não fossem uma forma de louvor!

Alguém tem que passar aos compositores e cantores de agora textos de Mateus 25, 31-46 ; Mt 7, 15-22 ; Mt 5, 23 e os salmos políticos e sociais para que se inspirem neles!

Liturgia não é só louvor. Também é teologia, sociologia, catequese familiar e compaixão. Bastaria ver as leituras do dia, os salmos e os responsórios!

Quem os motivou essa moçada a só cantar louvores esqueceu de ensinar o louvor que clama em favor do pobre e do coração ferido! Louvor sem compaixão é cruz de um só poste. Não tem os braços estendidos para as dores do povo! 

Será que alguém vai me rebater e provar que estou enganado? Ou o que eu digo merece uma séria reflexão?

Padre Zezinho scj

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Morre Pe. João Batista Libânio, A igreja perde um grande homem

 "Morreu na manhã desta quinta-feira o padre João Batista Libanio, vigário da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande BH. O jesuíta de 81 anos estava em Curitiba (PR) e sofreu um infarto. " Fonte: http://zip.net/bqmf7N "Faleceu nesta manhã em Curitiba o Padre Libânio, grande teólogo e mestre da nossa geração. Ainda impactado com a triste notícia, compartilho com vocês esta grande perda." Afonso Murad: Professor na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte. *Abaixo entrevista concedida por ele a revista online IHU ()Instituto Humanitas Unisinos, em maio de 2012. Pe. Libânio, 80 anos: “Acolhi a vida como dom” Ao celebrar 80 anos, o legado de vida que João Batista Libânio quer compartilhar é a palavra de incentivo à liberdade, à capacidade crítica, iluminada pelo cuidado das pessoas nas pegadas do Jesus palestinense. Por Graziela Wolfart & Luis Carlos Dalla Rosa “Todas as pessoas com quem convivi nesses 80 anos contribuíram na construção da minha existência. Portanto, imensa gratidão! Ela nos livra da presunção e da arrogância. Sem dar-nos conta, tecemos a vida com os fios de cada pessoa com que encontramos, da que rezou por nós, de quem nos influenciou até mesmo através dos séculos pelos escritos, pelo enriquecimento da tradição que nos envolve. Perdem-se no infinito todos aqueles e aquelas que me marcaram o existir”. A reflexão é de João Batista Libânio em entrevista concedida, por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, “meu modelo de teologia se espelha na Constituição Pastoral Gaudium et spes. Esforço-me por pensar os problemas contemporâneos à luz da fé cristã. Predomina, portanto, a perspectiva de teologia fundamental e de reflexão sobre a cultura atual”. E completa: “cada vez mais frequento o Jesus histórico e a partir dele busco luz para a vida pastoral e estudos. Aliás, pertence ao cerne da espiritualidade inaciana dedicar nos Exercícios Espirituais amplíssimo espaço às meditações dos mistérios da vida de Jesus”. João Batista Libânio é padre jesuíta, escritor, filósofo e teólogo. É também mestre e doutor em Teologia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG, de Roma. Atualmente leciona na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE e é membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. É autor de diversos livros, dentre os quais destacamos Teologia da Revelação a partir da Modernidade (Loyola, 2005) e Qual o futuro do cristianismo (Paulus, 2008). Com Comblin e outros, é autor de Vaticano II: 40 anos depois (Paulus, 2005). Seu livro mais recente é A escola da liberdade: subsídios para meditar (Loyola, 2011). Confira a entrevista. IHU On-Line – Qual o significado que o senhor dá para a sua vida, no ano em que celebra 80 anos? João Batista Libânio – Acolhi a vida como dom. Não pedi para viver. Deu-ma Deus em primeiro lugar, como Criador. Meus pais, família, mestres, amigos, companheiros, enfim todas as pessoas com quem convivi nesses 80 anos contribuíram na construção da minha existência. Portanto, imensa gratidão! Ela nos livra da presunção e da arrogância. Sem dar-nos conta, tecemos a vida com os fios de cada pessoa com que encontramos, da que rezou por nós, de quem nos influenciou até mesmo através dos séculos pelos escritos, pelo enriquecimento da tradição que nos envolve. Perdem-se no infinito todos aqueles e aquelas que me marcaram o existir. IHU On-Line – O que se lembra de sua infância e adolescência? A partir destas lembranças, como despertou sua vocação? João Batista Libânio – Há dois olhares sobre a existência: o factual e o interpretativo teológico. Nasci em Belo Horizonte, de uma mãe extremamente religiosa, da piedosa tradição do sul de Minas e de um pai intelectual, professor catedrático de Medicina na então Escola de Medicina de Belo Horizonte, hoje UFMG. Ele não praticava a religião, mas tinha o traço religioso da tradição familiar. A religião entrava-me pelos olhos e se vestia de beleza na forma da prática católica. Depois da morte de meu pai, quando era ainda criança, bastou o convite de um padre jesuíta para ir para o Rio de Janeiro, onde havia uma espécie de Seminário menor moderno. Com quase 12 anos não se sabe bem o que vem a ser padre. Mas ao longo dos anos em contato com os jesuítas do Rio, a vocação foi clareando até eu entrar no noviciado beirando os 16 anos. Com o olhar da fé, leio tudo isso como sinal da presença de Deus que nos oferece oportunidades de vida por meio das circunstâncias aleatórias da história. IHU On-Line – E a opção pela Companhia de Jesus? O que lhe encantou e continua encantando? João Batista Libânio – A Companhia de Jesus, por sua presença na história do Brasil e pelas obras educativas, projetava a imagem de uma Ordem de peso evangelizador e intelectual. Ainda bem criança, tive primeiro contato com os jesuítas quando fui ver o famoso missionário popular Pe. Arlindo Vieira que pregou na Igreja de São José dos padres redentoristas, a paróquia a que pertencia. Um segundo contato veio de algo bem fortuito. Dois padres jesuítas estavam visitando casas em Belo Horizonte em busca de uma que pudesse ter as condições para aí iniciar o Colégio Loyola. Não sei por que bateram lá em minha casa para vê-la. Mas não era grande suficiente para um colégio. Assim me ficaram na mente esses dois contatos esporádicos com os jesuítas. Um belo dia outro padre jesuíta, Pe. Moutinho, visitando a casa de um tio, onde estava brincando, me interpela: que você vai ser mais tarde? Nem sei por que, disse: padre. Bastou isso para que ele me levasse com quase 12 anos para o Rio de Janeiro, onde encetei a caminhada vocacional. A Companhia de Jesus ofereceu e ainda oferece excelentes condições para quem quiser ter formação sólida em Filosofia, Teologia ou mesmo em outra especialização. Aprecio muito esse traço. Além disso, nela tive oportunidade de conhecer pessoas de altíssimo nível espiritual e intelectual. E na sua tradição até mesmo recente deu à Igreja pessoas de muito valor. Basta lembrar nomes como Teilhard de Chardin , K. Rahner , H. de Lubac e entre nós homens como Pe. Franca , Pe. Vaz e outros muitos. IHU On-Line – Quem foram os seus principais mestres e como eles influenciaram em sua vida de padre e de teólogo? João Batista Libânio – Determinadas pessoas me marcaram ao longo da formação sob diferentes aspectos. Em nível de colega, tive um amigo jesuíta alemão que naquele momento de adaptação ao Escolasticado de Frankfurt me foi de enorme ajuda. Depois, ele saiu da Companhia e ainda vive com sua esposa já com boa idade. Mantemos ainda algum escasso contato por e-mail. Em termos de personalidade, o jesuíta que mais me influenciou o encontrei em Roma, no Colégio Pio Brasileiro : Pe. Oscar Müller . Esteve presente no início da minha primeira missão depois da 3ª Provação de orientar intelectualmente os estudantes do dito Colégio. Padre Müller exercia a função de padre espiritual dos seminaristas e se tornou referência para mim pela profunda liberdade interior e em face das exterioridades comuns em nossas casas e no interior da Igreja. Padre Antônio Aquino, que conheci ainda adolescente no tempo do Rio de Janeiro, incentivou-me ao estudo e me acompanhou especialmente por correspondência na formação intelectual. Devo a ele ter iniciado cedo a escrever. Tinha mentalidade bastante aberta para aqueles idos. Mantivemos amizade sincera e firme até a sua morte, embora tenhamos tomado posições intelectuais diferentes. Ele se encaminhou por vias mais conservadoras no final. No campo intelectual exceleu a figura do Pe. Henrique Cláudio de Lima Vaz. Depois que voltei da Europa em janeiro de 1969 vivemos a maioria dos anos na mesma comunidade até a sua morte, em 2002. Nutrimos longa e profunda amizade. Com o modo de viver simples, com a dedicação aos estudos, com a extrema modéstia e vastíssima cultura serviu-me de modelo vivo para minha trajetória intelectual e existencial. No horizonte amplo da teologia, vivi os anos de transformação da Igreja por ocasião do Concílio Vaticano II e então me alimentei daqueles teólogos que estiveram na gênese do Concílio, especialmente de K. Rahner. Devo a muitos deles o que aprendi de Teologia. IHU On-Line – Considerando que durante os anos do Vaticano II o senhor estava em Roma, como vivenciou o Concílio? João Batista Libânio – Comecei a exercer o cargo de Orientador de Estudos no Pontifício Colégio Pio Brasileiro em agosto de 1963. Estive presente na inauguração solene da segunda sessão do Concílio, presidida por Paulo VI , recém-eleito papa. Recordo-me bem do impacto do discurso inaugural em que pedia aos padres conciliares que se debruçassem sobre a temática fundamental da Igreja. Que ela dissesse a si mesma quem ela era sob o duplo olhar para seu interior e para as relações com as outras denominações cristãs e religiosas, com o mundo contemporâneo na densa problemática atual. Quase ao lado do Colégio Pio Brasileiro na mesma Via Aurélia 481, erguia-se a Domus Maria, sede da Ação Católica Italiana Feminina. Aí se hospedaram, durante o Vaticano II, quase todos os bispos brasileiros, juntamente com os da Hungria e de alguns outros países da África. Organizaram-se para eles, nas três últimas sessões do Concilio, 84 conferências de teólogos e de especialistas em diversos campos da moral, sociologia, exegese. Pude participar de muitas delas e assim entrei em contacto com homens como K. Rahner, E. Schillebeeckx , Hans Küng , Oscar Cullman , Y. Congar , B. Häring e inúmeros outros de altíssimo nível teológico. Verdadeiro banho daquela teologia moderna que gestou o Concílio. Certa vez, convidei para dar uma palestra para nossos alunos o então jovem teólogo alemão Joseph Ratzinger com quem tive momentos de encontro pessoal, ao buscá-lo, ao jantar com ele e ao levá-lo de volta, além de ouvi-lo na conferência. Como então ele não falava nenhuma língua latina, fez a conferência em Latim sobre a Igreja, povo de Deus. Naturalmente ter vivido em Roma nesses anos conciliares e pós-conciliares permitiu-me vivenciar a explosão renovadora que atravessou todos os rincões da Igreja, desde a liturgia até a vestimenta eclesiástica, passando pela disciplina dos seminários. Momento de muita criatividade e liberdade que gerou insegurança e descontrole em diversas instituições eclesiásticas. Da+í se entendem as contrarreações surgidas nas últimas décadas. IHU On-Line – Qual o significado da Teologia da Libertação em sua vida? Que conjunturas lhe conduziram para essa opção teológica? João Batista Libânio – Quando voltei ao Brasil, em 1969, vivíamos o regime de ferro do AI-5 . No entanto, comecei a trabalhar com jovens do final do segundo grau e universitários em linha de pensamento crítico. Nutríamo-nos naquela década da teologia hermenêutica e aberta do Concílio Vaticano II, da teologia política de J. B. Metz e da esperança de J. Moltmann . Assim o campo estava preparado para dar o salto para a teologia da libertação. Modificamos o ângulo crítico teórico europeu para a realidade social de dominação a partir da situação das camadas populares numa perspectiva da libertação. Na Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB nacional, o Pe. Marcello Azevedo criou a equipe teológica e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB potenciou o Instituto Nacional de Pastoral. Nesses dois grupos, teólogos/as e outros/as cientistas se puseram a refletir sobre a vida religiosa e a Igreja naquelas conjunturas repressivas. Criaram-se espaço e clima para pensar a teologia crítica de viés social que se chamou “teologia da libertação” depois da publicação do livro de Gustavo Gutiérrez , em 1971. Também participamos de Encontros Nacionais das Comunidades Eclesiais de Base que ofereceram excelente material para a reflexão teológica. Assim, essa teologia crítica da realidade a partir dos pobres começou a influenciar os diferentes segmentos e setores da Igreja. A criação da coleção Teologia e Libertação por iniciativa de Leonardo Boff e de outros levou-nos a pensar toda a teologia na perspectiva da libertação. Todos esses fatos e circunstâncias propiciaram o surgimento e desenvolvimento da Teologia da Libertação. Por ocasião de Puebla tivemos reunidos em bom número e colaboramos com bispos que nos pediam ajuda, embora já houvesse clima hostil aos teólogos da libertação. A caminhada da Teologia da Libertação não se processou tranquila e linearmente, mas com muitos tropeços, restrições, condenações, etc. No entanto, ela prestou excelente serviço à Igreja da América Latina e também à de outros continentes, despertando visão comprometida da fé cristã. O fato de eu estar envolvido com todos esses fatores, contatos, grupos de reflexão, encontros de CEBs e outras coisas mais, fez com que a minha teologia assumisse a conotação crítica no interior da Igreja e respeito às relações sociais. IHU On-Line – Como se deu sua inserção pastoral em terras brasileiras? Quais foram os aspectos mais marcantes? João Batista Libânio – Dediquei 11 anos à equipe teológica da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB e fiz parte da equipe de seminários da Confederación Latinoamericana y Caribeña de Religiosos/as – CLAR. A partir daí, desenvolvi ampla pastoral junto a religiosos e religiosas. Praticamente percorri todas as regionais da CRB do Brasil e quase todos os países da América Latina e alguns da Europa dando cursos, fazendo palestras e assessorando capítulos de religiosos e religiosas. Alguns dos meus primeiros livros nasceram dessa presença junto à vida religiosa. Desenvolvi durante algumas décadas presença a um grupo de jovens secundaristas e universitários do Rio de Janeiro, Estado do Rio, Minas Gerais, especialmente Belo Horizonte, Juiz de Fora e alguns de São Paulo. Reuníamos várias vezes por ano em feriados prolongados para estudo, reflexão, espiritualidade . Até hoje mantenho contato com eles. Por ocasião dos meus 80 anos, um grupo de uns 80 se reuniu para relembrar aqueles anos e prometem continuar com algum encontro anual. Fiz parte da equipe do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável – Ibrades. Além de seminários e de grupo de pesquisa no Rio, circulávamos pelo Brasil, sobretudo em regiões carentes, para ministrar curso de formação social para agentes de pastoral. Desenvolvi atividade semelhante em outra frente pastoral por meio do Instituto Nacional de Pastoral de cuja equipe fiz parte durante alguns anos. Inclusive organizamos cursos para bispos. As atividades no campo intelectual e pastoral paroquial exigiram de mim o maior investimento de tempo e energia. Durante muitos anos ministrei cursos e palestras em vários países da América Latina, Europa e África. Ultimamente me tenho restringido ao Brasil. Ainda existe muita solicitação de palestras em congressos, simpósios, cursos, aula inaugural, etc. Ainda no campo intelectual, absorve-me tempo e dedicação a tarefa de professor e escritor. Leciono Teologia em nível de graduação e pós-graduação na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte com tudo o que implica tal tipo de atividade em termos de aula, direção de estudos, orientação de monografias, dissertações e teses. E em articulação com tal função, dedico considerável tempo a escrever artigos e livros. Finalmente, já desde o início da década de 1960, assumi cada vez mais presença pastoral na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, como vigário paroquial do padre Lauro, sacerdote diocesano. Ofereço colaboração nas celebrações, cursos, palestras, visitas a doentes, bênção de casas, administração de sacramentos, atendimento regular às pessoas que me procuram. Algumas paroquianas deram-se, já faz décadas, ao cuidadoso trabalho de gravar as homilias e as publicaram em nove livros, encerrando a coleção. Doravante, elas as colocarão no site que elas mesmas alimentam: www.jblibanio.com.br. Aí se inserem também artigos que escrevi e que estou a escrever. IHU On-Line – Quais foram as grandes questões ou problemáticas que lhe implicaram como teólogo e pensador? João Batista Libânio – Resumiria nas duas palavras do grupo de pesquisa que oriento: fé e contemporaneidade. Meu modelo de teologia se espelha na Constituição Pastoral Gaudium et spes . Esforço-me por pensar os problemas contemporâneos à luz da fé cristã. Predomina, portanto, a perspectiva de teologia fundamental e de reflexão sobre a cultura atual. Nesse campo, escrevi os meus livros de maior densidade e extensão. Entre eles citaria: Teologia da revelação a partir da modernidade (São Paulo: Loyola, 5ª ed. 2005); Eu creio, nós cremos: tratado da fé (São Paulo: Loyola, 2ª. ed. 2005); A Religião no início do milênio (São Paulo, Loyola, 2012, 2ª ed.); Olhando para o futuro: Prospectivas teológicas e pastorais do cristianismo na América Latina (São Paulo, Loyola, 2003]; Os carismas na Igreja do Terceiro Milênio. Discernimento, desafios e práxis (São Paulo, Loyola, 2007); Em busca de lucidez. O fiel da balança (São Paulo, Loyola, 2008). Trabalhei temas bem diversos da pastoral e da metodologia como os livros: A arte de formar-se (São Paulo, Loyola, 2004, 4ª ed.) e Introdução à vida intelectual (São Paulo: Loyola, 2006, 3ª ed.). Enfim, optei não pela linha do especialista, mas do generalista, na expressão de Edgar Morin . Alimento semanalmente duas colunas de jornal (Jornal de Opinião e O Tempo de Belo Horizonte) além do site da Faculdade Dom Helder. IHU On-Line – O que lhe motiva a caminhada como padre, educador, escritor, teólogo? Como concilia essas diversas dimensões em sua vida? João Batista Libânio – Cada vez mais frequento o Jesus histórico e a partir dele busco luz para a vida pastoral e estudos. Aliás, pertence ao cerne da espiritualidade inaciana dedicar nos Exercícios Espirituais amplíssimo espaço às meditações dos mistérios da vida de Jesus. Hoje, com a contribuição da exegese e de estudos históricos, a figura do Jesus palestinense, mesmo que lido à luz da ressurreição, se nos torna expressiva e instigante. E impressiona-me em Jesus a liberdade em face das formalidades e costumes da época, considerados lei de Moisés. Jesus apelava para o princípio superior do bem das pessoas, a partir do qual interpretava as prescrições. Não se enroscava em discussões formais de legalidades, próprias dos fariseus de seu tempo. No momento atual de pós-modernidade vivemos o paradoxo de extrema subjetividade e de ritualismo exterior acentuado. A subjetividade não se molda pela liberdade interior, nascida da experiência da proximidade de Jesus, mas da autocentração hedonista e narcisista. E o ritualismo reforça tal perspectiva. A própria exterioridade confirma o lado autocentrado da pós-modernidade. Jesus aporta claro antídoto a tal tendência já que ele afirma, como norma suprema, o amor de si até a entrega da vida pelo e para o outro. Não há maior amor que dá a vida. Vida hoje significa tempo, cuidado, liberdade de e para, serviço. IHU On-Line – Ao celebrar 80 anos, qual é o legado de vida que o senhor gostaria de compartilhar? João Batista Libânio – Palavra de incentivo à liberdade, à capacidade crítica, iluminada pelo cuidado das pessoas nas pegadas do Jesus palestinense. Há duros sofrimentos escondidos atrás de aparentes belezas. Dói às pessoas a percepção de que lhes falta alguém a interessar-se por elas e a cuidar delas. Ao cristão caberia hoje a missão de especial cuidado, especialmente pelos desprezados, marginalizados, deixados fora do círculo de humanidade. Continua viva mais do que nunca a mensagem de Jesus de que ele se identifica com o que tem sede, fome, está desnudo, preso, enfermo, sente-se estrangeiro política e religiosamente. E a esses que, em linguagem do atual sistema chamam-se excluídos, se dirige nossa principal atenção. Acrescente-se a necessidade de especial cuidado para com o Planeta Terra, cuja destruição semeia morte por todos os lados. Essa última palavra de cuidado leva-me a pensar na figura maravilhosa de D. Luciano Mendes de Almeida . Ele viveu, em grau heroico, o cuidado minucioso, atento às pessoas necessitadas, àquele que dorme na rua, à menina de rua carente de carinho, ao ancião esquecido da família. Fique o exemplo desse homem extraordinário como lembrança e estímulo para nossa vida de cristão.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Igreja Católica prepara reabilitação de Padre Cícero


Processos de reabilitação e, depois, de oficialização como beato e santo, estão sob exame do papa Francisco. Ele decidirá se o Padim Ciço do Juazeiro, que se tornou líder popular no início do século passado, será beatificado e canonizado numa de suas duas visitas ao Brasil, previstas para 2017 e 2018.
    
O padre Cícero Romão Batista, o maior líder religioso e político do interior do Ceará, nos anos 30, já foi reabilitado, na prática, pela Igreja Católica Romana, depois de ter sido silenciado e excomungado há mais de 100 anos. Os processos de reabilitação e, depois, de oficialização como beato e santo, estão sob exame do próprio papa Francisco. Ele decidirá se o Padim Ciço do Juazeiro será beatificado e canonizado numa de suas duas visitas ao Brasil, previstas para 2017 e 2018.

Seu nome já integra, como referência para a comunidade católica, o programa oficial do 13º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), que será realizado de 7 a 14 de janeiro de 2014, em Juazeiro do Norte, a cidade do padre Cícero, a 500 km de Fortaleza, sobre o tema “Justiça e Profecia a serviço da Vida”.

As Cebs foram duramente afetadas pela política neoconservadora dos papas João Paulo II e Bento XVI, mas nunca deixaram de se reunir, inspiradas na Teologia da Libertação e nos documentos aprovados pelo Concílio Vaticano. Vários líderes assassinados por participarem das lutas populares urbanas e rurais – como é o caso de Chico Mendes, padre Josimo Moraes Tavares, Santo Dias da Silva, Margarida Maria Alves, Marçal Tupã-Ý e irmã Dorothy Stang – participaram do trabalho das comunidades de base.

Nove encontros preparatórios e círculos bíblicos já começam a ser realizados em todo o Nordeste, preparando o intereclesial de janeiro. O encontro terá também a participação de representantes de outras igrejas cristãs que apoiam o diálogo ecumênico (Luterana, Presbiteriana, Anglicana, Católica Brasileira, Ortodoxa, entre outras).

Semiárido
Um dos temas a serem debatidos em Juazeiro será o papel dos beatos e sua atuação na realidade do sertão semiárido nordestino. “Essa região – diz o texto-base das CEBS – é marcada pela violência no campo, pela luta pela terra e pela concentração da pobreza e da miséria, mas o semiárido não é apenas clima, vegetação, solo, sol ou água. É povo, música, festa, arte, religião e política. É um processo social”. Para as Cebs, a realidade nordestina exige uma verdadeira revolução cultural, que passa pela dimensão religiosa do povo do sertão.

O recurso à história é incluído no texto-base das Cebs como algo fundamental nesse resgate do catolicismo popular. Os “desvalidos dos currais do coronelismo sertanejo” partiram, em massa, no final do século XIX e começo do século XX, para o sertão do Cariri. Esses homens e mulheres empobrecidos já haviam ouvido falar do Padim Ciço, um missionário que anunciava a terra prometida. Sabiam do “milagre da hóstia” que tinha se transformado em sangue quando dada à beata Maria Madalena do Espírito Santo de Araújo. Nesse período histórico aconteceram várias rebeliões de camponeses pobres em Canudos (1896-1897), Contestado (1912-1916) e Caldeirão (1926-1937).

A religiosidade popular desses sertanejos chocou-se com a ortodoxia do catolicismo dominante. O padre Cícero foi destituído de suas funções e expulso da Igreja. Chegou a viajar ao Vaticano para tentar o perdão do Papa, sem sucesso. Tornou-se o líder político de sua região. Cumpriu até mesmo missões políticas a serviço do governo federal: ofereceu, por exemplo, ao líder do cangaço, Lampião, uma patente de capitão, se envolvesse os cangaceiros na resistência armada à Coluna Prestes.

Preceitos ecológicos
O Padim Ciço tornou-se um líder popular e, já naquela época, tornou-se defensor do meio ambiente. No encontro das Cebs, serão distribuídos folhetos com os 10 conselhos ecológicos elaborados por Cícero: 1. Não derrube o mato, nem mesmo um pé de pau; 2. Não toque fogo no roçado em na catinga; 3. Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4. Não crie o boi nem o bode soltos faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 5. Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e para que não se perca a sua riqueza; 6. Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva; 7. Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta; 8. Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá, ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só; 9. Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca; 10. Se o sertanejo obedecer a esses preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá o que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai vira um deserto só. 

Animação 13° Intereclesial

Fala Gogó 13° Intereclesial

Celebração Indígena 13° Intereclesial

13° Intereclesial

Celebração de abertura do 13° Intereclesial das CEBs

DICOESE DE CAETITÉ -BAHIA

XIII Intereclesial das CEBs, Juazeiro do Norte/CE: Celebração da Caminhada dos mártires

DIOCESE DE CAETITÉ - BAHIA

Análise de Conjuntura 13° Intereclesial das CEBs